17 de dezembro de 2012

Papai Noel não entra em barraco de garoto pobre


“Por vários dias, semanas e meses que antecederam o Natal, eu namorei aquela bicicleta colorida colocada estrategicamente na vitrine daquela loja. Era linda! Sonho de consumo de toda garotada que estudava no colégio ao lado da loja. Toda confeccionada em alumínio, cores vivas e pneus largos. Era o máximo! Com meus seis anos de idade, já sabia escrever meu nome e rabiscar algumas palavras. Sonhando com a bicicleta, não hesitei em arriscar uma cartinha ao “bom velhinho”, até porque, segundo os mais velhos, o Papai Noel não se esquece de ninguém. Escrevi pedindo a minha bicicleta colorida! Na noite de Natal todo mundo sabia que ele chegaria pela chaminé carregando aquele enorme saco de presentes nas costas. Onde não tinha chaminé, ele deixava o presente no sapatinho ou nas árvores de Natal. Na minha casa não tinha chaminé e muito menos árvores enfeitadas. Eu tinha apenas aquele velho chinelo de dedo todo amarrado com pedaços de arame, companheiro inseparável nas minhas caminhadas pelas ruas de terra rumo á escola e ás missas aos domingos celebradas pelo “Padre Lopão”. Mas dentro de mim, eu acreditava que o Papai Noel viria. Embalado pela certeza da visita do “bom velhinho”, peguei no sono como um anjo. No outro dia, quando o sol penetrava pelas frestas da janela de madeira mal acabada, minha mãe entrou no quarto e me entregou um pequeno embrulho mal feito, dizendo com sua voz suave e embargada: “...aqui está o seu presente de Natal, o Papai Noel nunca se esquece de ninguém!”Levantei-me e num único impulso rasguei o pequeno embrulho por onde quicou uma pequena bola de borracha. Não era a minha bicicleta colorida! Corri até a sala e me curvei para olhar embaixo da cama onde meu irmão mais velho dormia. Nada, a minha bicicleta colorida também não estava lá. Pensei, meditei e cheguei a pensar que o Papai Noel não sabia ler, ou talvez, ele tivesse trocado o meu endereço. Isso mesmo: certamente ele confundiu e. Em prantos fui até a bica d’água na porta da cozinha onde minha mãe lavada a roupa surrada que eu usaria no Natal e perguntei se o Papai Noel voltaria, se ele passaria de novo para desfazer a troca e concertar o erro, pois eu não havia pedido uma bola de borracha, mas sim uma bicicleta colorida. Desolada, minha mãe em prantos me pegou no colo e disse: “...me perdoe meu filho se não lhe trouxe o presente que desejava. Não tinha o dinheiro suficiente, por isso lhe trouxe essa bola.” Abracei minha mãe com ternura e choramos ali mesmo! Desde então descobri que o Natal, esse que se comemora com troca de presentes caros e mesa farta, não chega até o lar dos garotos pobres. E o “bom velhinho”, não existe, e quando existe, ele é cruel, pois nos revela a diferença e a desigualdade social. Não comemoro o Natal, não enfeito árvores, não coloco pisca pisca e não espero há muito tempo o Noel que nunca vem. A ilusão consumista foi-me substituída, muito cedo, nesta vida, pela verdade de que o amor vale mais que aquela bicicleta colorida, que aquela boneca que anda e fala. Minha mãe não tinha como me dar aquela bicicleta colorida, mas seu gesto e aquela simples bola de borracha mudou a minha história. O Noel que inventaram não visita casa pobre, não sabe ler as cartinhas que lhe são enviadas pelas crianças pobres. Essa lenda do consumismo criado para satisfazer uma necessidade de venda do mercado de consumo, faz aumentar a desigualdade e crescer as diferenças. No Natal eu simplesmente comemoro a lembrança do nascimento do Menino Jesus, o filho de Deus”. Há todos, um Feliz renascimento do Menino Jesus!

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