7 de março de 2012

O Padre, o Jornaleiro e a Bicicleta

Conta os antigos historiadores que no século passado surgiu na pacata cidade de “Tubiacangas” um fabricante de notícias vindo lá das bandas do Rio de Janeiro trazendo na bagagem o sonho de ganhar muito dinheiro e conquistar o poder. De fala fácil e sorriso maroto, o “carioquinha” aos poucos foi se infiltrando entre os coronéis da política e acabou se tornando uma das maiores autoridades do lugar. Tudo que ele escrevia virava lei entre a pacata comunidade do lugar. Para conseguir seus objetivos, o moço não poupava ninguém. Aquele que não comia em suas mãos descobria o peso de sua caneta. Com o passar do tempo ele se tornou a maior autoridade política do mercado de “Tubiacangas” e região. Com a conta bancária polpuda, seu maior passatempo era achincalhar, denegrir, agredir e criar escândalos no meio político. Com sotaque nordestino e caminhar de dançarino de gafieira, o nosso personagem chegou a induzir o senhor prefeito da cidade a lhe entregar de mão beijada um lindo prédio localizado na única área nobre do município. Em troca, o “carioquinha” se comprometeu a usar todo seu arsenal contra todos aqueles que estivessem contra o então mandatário. E assim foi feito até que um grupo de meninos despretensiosos resolveu mudar os rumos político de “Tubiacangas”. Foi como se a terra se abrisse e um monstro adormecido começasse a soltar fogo pelas ventas. Inconformado com a conquista do poder pela “meninada”, o “carioquinha” então começou a bater no novo prefeito, no vice, nos secretários, nos assessores, na mãe do prefeito, na tia do prefeito, na irmã do prefeito e até nos inocentes vigários do lugar. Mas o tempo se encarregaria de escrever uma nova história nas páginas da política do lugarejo. Já no final de carreira, sem dinheiro, sem seu imóvel, sem credibilidade e longe do poder, o jovem ancião resolveu tentar escapar de um final trágico. Numa noite de lua cheia o dito cujo teve um sonho, e nesse sonho ele estava ardendo em chamas dentro de uma igreja católica. Acordou assustado e esperou o dia clarear. Logo cedo foi bater á porta de um famoso “Pai de Santo” que também exercia o papel de vereador do município. Depois de algumas baforadas em seu velho cachimbo de madeira, o “Pai de Santo” foi logo dizendo: “... seu maior pecado foi atacar os padres da cidade. Você foi excomungado e terá que fazer algo para pagar os seus pecados antes de embarcar para o além e virar purpurina. Brigar com padre é o mesmo que jogar pedra no senhor crucificado.  Vá e descubra como fazer isso”, orientou o macumbeiro. Sem saber o que fazer, o “carioquinha” teve uma brilhante idéia: “vou dar uma assinatura vitalícia do meu jornal aos sacerdotes. Lendo todos os meus artigos, eles vão acabar me perdoando”, pensou o moço. E assim foi feito. Todas as manhãs o entregador de jornais jogava a última edição do “devezenquandário” pelo muro da casa paroquial. E assim, a cena se repetiu durante vários anos. Quando recebia os exemplares um dos sacerdotes ficava intrigado: “...cacête, qual será esse filho da puta que anda poluindo o meu alpendre com esse lixo? Detesto esse jornaleco, detesto essa corja. Isso só pode ser uma provocação, é coisa do diabo”, pensou o sacerdote. Um dia, porém, o padre resolveu ficar vigiando prá pegar no pulão o engraçadinho que estava praticando aquela brincadeira sem graça. Naquela noite o padre não dormiu. Apagou as luzes da casa e ficou na espreita. Lá pelas cinco da manhã um jovem estacionou a sua bicicleta velha em frente à casa paroquial e retirou do embornal um exemplar ainda quente e atirou pelo muro. Imediatamente o sacerdote abriu a porta e foi logo ordenando: “volte aqui, volte aqui e recolha toda essa imundice. Nunca mais se atreva a poluir o meu sagrado lar com essa coisa de péssimo gosto”. Assustado, o jovem recolheu o jornal da varanda da casa paroquial e nunca mais voltou ao trabalho. Até hoje não se tem notícia do garoto da bicicleta que quase apanhou do padre de “Tubiacangas”. Qualquer semelhança com fatos reais é pura coincidência.

Nenhum comentário:

Postar um comentário