19 de março de 2012

O Juiz e o Rabicó

Conta-se que um experiente juiz de “tubiacangas” estava frente a frente com uma situação inusitada envolvendo dois profissionais de imprensa. Dois jornalistas resolveram tirar suas diferenças na esfera judicial. O reclamante era um “baita” jornalista. “Baita” em todos os sentidos! Além das medidas fora dos padrões normais para os senhores da época, o rapaz era um dos poucos intelectuais que circulava pelas ruas da pacata cidade. Professor, jornalista, editor, poliglota e puxa-saco nas horas de folga, o nobre cavalheiro se sentia o tal. O reclamado era o oposto. Jornalista prático, ex-aluno rebelde que fugiu da escola após ter traçado a diretora, uma idosa de 78 anos, blogueiro e que só falava palavrões.  O motivo que o levou ao “banco dos réus” foi uma nota perdida que ele teria postado em seu extinto blog pornográfico. Na referida nota o moço, revivendo sua infância pobre na terra onde Judas perdeu a bota, teceu alguns comentários sobre o “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, do Monteiro Lobato, onde seu personagem preferido era o lindo, inteligente, e extravagante porquinho Rabicó, que por sinal, também falava, ou melhor, roncava em vários idiomas. Após a publicação da nota, o jornalista “classe A”, o bam-bam-bam, resolveu acionar a Justiça para reclamar de “danos morais”. Em sua petição o ofendido pleiteava uma indenização de R$ 10.200,00. Além disso, ele queria que o jornalista famigerado “Classe C” publicasse uma retratação de nada menos que 32 laudas pedindo perdão pelas ofensas. Mas qual seria as ofensas?  Diante do juiz o jornalista reclamante fez questão de expor todo seu perfil profissional, além de citar que trabalhava no “único jornal com Certificado de Qualidade Isso 9000-9001”; “único jornal que perdeu a sede, mas não cedeu”; “único jornal que não esconde nada de você” e outras baboseiras mais. Com os olhos lacrimejando para sensibilizar o magistrado, o bonito começou a narrar seu drama: “... excelentíssimo senhor doutor juiz de direito da comarca de Tubiacangas. Esse indivíduo desqualificado me chamou de rabicó. Ai que ódio! No meu colégio eu fui humilhado, escorraçado, achincalhado, desprezado e atirado na lama sem dó e nem piedade. Fui tratado como um porco! Para o senhor ter uma ideia, dentro da sala de aula, quando me viam, os alunos começavam a roncar feito porco. Tudo isso doutor juiz, para me sacanear, para me humilhar! Ai, como eu sofri! Trouxe comigo uma testemunha que não me deixa mentir sozinho, não é Narizinho? Sabe doutor, a pressão foi tanta que eu já estou com síndrome de rabicó. Não como carne de porco, detesto leitoa assada no Natal, tenho pavor de feijoada e até parei de frequentar o famoso “Bar Pé de Porco”, muito frequentado pelos amigos da Corja. Sabe doutor, no final do ano fui ao exterior, vou sempre lá quando estou deprimido, pois, preciso espairecer! Mas essa última viagem foi horrível, ai que pavor! O senhor conhece a Praça do Vaticano, onde os brasileiros jogam milho para os pombos? Pois é doutor, ao invés de pombos, eu via dezenas, centenas, milhares de porquinhos cor-de-rosa! Depois que esse infeliz me chamou de rabicó, ás vezes tenho alucinações e me vejo sendo perseguido por milhões de porcos imundos. Que horror! Por isso doutor juiz, quero que o senhor condene esse infeliz”, disse o solicitante. Depois de ouvir a choradeira do réu, que jurou de pé junto que jamais pensou em magoar o seu colega de profissão, o juiz deu o seu veredicto: “... não se vislumbra nas peças contidas nos autos nenhum fato que comprove o dolo sofrido pelo reclamante. Além do mais, o simples fato de alguém ser comparado ao personagem tão ilustre do Monteiro Lobato, no caso o porquinho Rabicó, deveria ser uma honra prá qualquer cidadão. Assim sendo, sugiro que o querelante e o querelado cheguem a um consenso sem prejuízo para o personagem do Monteiro Lobato”, determinou o magistrado. 

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